“Todos os dias que depois vieram, eram tempo de doer. Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e estava no mesmo lugar
Questões de Conhecimentos Gerais na Fuvest
67. (Fuvest 2024) “Todos os dias que depois vieram, eram tempo de doer. Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e estava no mesmo lugar. Quando chegava o poder de chorar, era até bom – enquanto estava chorando, parecia que a alma toda se sacudia, misturando ao vivo todas as lembranças, as mais novas e as muito antigas. Mas, no mais das horas, ele estava cansado. Cansado e como que assustado. Sufocado. Ele não era ele mesmo. Diante dele, as pessoas, as coisas, perdiam o peso de ser. Os lugares, o Mutum – se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos. E Miguilim mesmo se achava diferente de todos. Ao vago, dava a mesma ideia de uma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora de seu costume – quando acordou, sentiu o existir do mundo em hora estranha, e perguntou assustado: – ‘Uai, Mãe, hoje já é amanhã?!’”
João Guimarães Rosa. Campo Geral.
Conforme sugere o trecho, o sofrimento perturba a noção que Miguilim tinha do tempo, porque
- a falta de acuidade visual não lhe permite distinguir as épocas.
- o desamor ao pai o faz romper com a infância cedo demais.
- o aprendizado da morte embaralha os planos da memória.
- a sensação de vazio o leva a se sentir seguro no presente.
- os dias vividos no Mutum mostram-se cada vez mais curtos.
Resposta: C
Resolução: O trecho descreve o sofrimento de Miguilim após a morte de seu irmãozinho, Zé Bebelo. O garoto é arrancado de seu mundo familiar e perde a noção de tempo. Ele não consegue distinguir o passado do presente, e as lembranças se misturam em sua mente.
O sofrimento de Miguilim é causado pelo aprendizado da morte. Ele ainda é criança e não consegue compreender a perda de um ente querido. A morte de Zé Bebelo é um evento traumático que perturba a sua percepção do mundo.