(UEL) [1] O velho adormeceu, a mulher sentou-se à porta. Na sombra do seu descanso viu o sol vazar, lento rei
02. (UEL) [1] O velho adormeceu, a mulher sentou-se à porta. Na sombra do seu descanso viu o sol vazar, lento rei
das luzes. Pensou no dia e riu-se dos contrários: ela, cujo nascimento faltara nas datas, tinha já o seu fim
marcado. Quando a lua começou a acender as árvores do mato ela inclinou-se e adormeceu. Sonhou dali
para muito longe: vieram os filhos, os mortos e os vivos, a machamba encheu-se de produtos, os olhos a
[5] escorregarem no verde. O velho estava no centro, gravatado, contando as histórias, mentira quase todas.
Estavam ali os todos, os filhos e os netos. Estava ali a vida a continuar-se, grávida de promessas. Naquela
roda feliz, todos acreditavam na verdade dos velhos, todos tinham sempre razão, nenhuma mãe abria a sua
carne para a morte. Os ruídos da manhã foram-na chamando para fora de si, ela negando abandonar aquele
sonho, pediu com tanta devoção como pedira à vida que não lhe roubasse os filhos.
[10] Procurou na penumbra o braço do marido para acrescentar força naquela tremura que sentia. Quando a
sua mão encontrou o corpo do companheiro viu que estava frio, tão frio que parecia que, desta vez, ele
adormecera longe dessa fogueira que ninguém nunca acendera.
(Adaptado de: COUTO, Mia. A fogueira. In: Vozes anoitecidas. São Paulo, Companhia das Letras, 2013. p. 25).
Acerca das figuras de linguagem usadas no trecho, assinale a alternativa correta.
- Há metáfora em “a vida a continuar-se, grávida de promessas”, revelando o desejo e o ânimo para a sobrevivência.
- Há personificação em “a lua começou a acender as árvores”, pois as árvores já estavam iluminadas pelo sol.
- Ocorre antítese no trecho “riu-se dos contrários” pela indicação de ideias opostas em evidência.
- Ocorre ironia em “Naquela roda feliz”, pois os presentes já estavam consternados pela morte do familiar.
- Há eufemismo em “cujo nascimento faltara nas datas”, indicando a morte iminente da personagem.
Resposta: A
Resolução: Há uma metáfora em "a vida a continuar-se, grávida de promessas", já que a vida é comparada a uma mulher grávida, que está carregando promessas no seu interior. Esta metáfora revela o desejo e o ânimo para a sobrevivência.